Carta ao Leitor
Natal, 29 de Novembro de 2012
Caro Leitor,
Dando
continuidade ao estudo a respeito do Projeto iniciado no ano de 2011 e retomado
no corrente ano de 2012, o qual tem como tema central “O Resgate da Memória e o
Desenvolvimento Local do Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição –
CSPNSC, especificando-se em conhecer a história do Espaço Solidário, juntamente
com suas vivências e sua importância dentro da comunidade de Mãe Luiza e do
CSPNSC, é que venho por meio desta contar um pouco do que foi feito e serviu de
aprendizado para nossas vidas.
O Espaço Solidário é um centro de convivência que além de abrigar alguns idosos,
muitos outros convivem diariamente nas atividades realizadas durante a semana. Um
dos espaços ligados ao CSPNSC (entidade esta que completará 30 anos de
atividades realizadas do bairro). É administrado, atualmente, pelo Pe. Robério
Camilo e coordenado por Loyse de Andrade e Ednalva Paulo. Localiza-se na Rua
Largo do Farol nº 36 em Mãe Luiza-Natal/RN.
Nosso foco este ano foi
entrevistar pessoas que tem ou tiveram contato com os moradores do Espaço e também
com os próprios moradores.
Entrevistamos duas pessoas
que tiveram o contato com os idosos através do trabalho, uma moradora, uma
idosa que convive passando o dia no Espaço (beneficiada) e o motorista do
Espaço. E ao observarmos os relatos dos que conviveram na casa através do
trabalho, concluí-se que o Espaço Solidário é um exemplo de amor, dedicação e
reconhecimento de um trabalho coletivo, de superação e fé tanto por parte dos
idosos, como também daqueles que o fazem ou fizeram.
Relata-se aqui um pouco da
experiência de Reinaldo Garuffi Garbi, Instrutor de esportes da Casa Crescer (mais
um dos projetos realizado pelo CSPNSC), que em entrevista no dia 28 de agosto
do corrente ano, falou que conviver com os idosos foi uma oportunidade muito
significativa em sua vida, já que ele tinha a vontade de trabalhar no Espaço na
intenção de completar a sua “experiência de vida na vivencia da palavra de
Deus” em contato com a experiência de vida dos idosos. Segundo Garuffi, aprendeu muito com eles, principalmente
com os que apresentam alguma debilidade física. Para Reinaldo, é através de
pequenos gestos no Espaço Solidário que você ama o próximo. “Um simples colocar de um chinelo no pé,
limpar uma boca, pentear o cabelo, ajudar a colocar numa cadeira...” Isso
foi um aprendizado gratificante em sua vida. Imagino que seja para nós leitores
também.
O trabalho realizado por
Garuffi no Espaço era a parte de entretenimento dos idosos. E tinha como responsabilidade
fazer com que eles se movimentassem, devido algumas deficiências, pois muito
dos anciãos ficavam muito tempo numa posição só na cadeira. Alguns mal
conseguiam até mesmo mexer o braço. Então, juntamente com a fisioterapeuta e
com a funcionária Irmã Maria, ficava responsável em colocá-los para caminhar,
fazer exercícios físicos e ajudá-los na piscina proporcionando momentos de
diversão, e descontração, além da convivência, já que também ficava responsável
pelos passeios que acontece toda quinta-feira.
A oportunidade dada a Reinaldo no Espaço por
Edilsa Gadelha o fez refletir a respeito das pessoas, principalmente familiar. “Às vezes espera-se muito da nossa família
e no final quem vai cuidar da gente são pessoas que nem se conhece”. E
nesta fala, cara leitor, Garuffi expressa seu pensamento tomando como ponto
negativo o que aprendeu sobre as pessoas. Mas também ele expressou pontos
positivos aprendidos através da convivência na casa. Um que citarei e que para
ele foi muito importante é a questão da morte no Espaço. Lá, segundo ele, ela é
esperada sem muito desespero, já que no entendimento dele, as pessoas tem medo
de morrer pelo patrimônio material que deixam na terra. Você constrói coisas,
você tem sua família e tem medo de morrer porque vai ter que deixar tudo isso.
Vai largar, vai perder. E no Espaço, os idosos já não têm mais isso. Já não tem
mais nada. Só tem as pessoas mesmo para cuidar deles. Ele acredita que é mais
ou menos por isso que eles vivem sem muito medo da morte. E quando acontece algum
falecimento lá, os idosos comentam quem será o próximo. É uma coisa que só vai
ficar mesmo na memória da gente.
E foi com esse aprendizado
que Reinaldo diz estar sempre à disposição dos idosos para o que for. Nunca
se negou a fazer nada. Dava banho, caminhava, levava à piscina, como já foi
dito anteriormente, levantava, deitava, saía para comprar um DVD, dava um
telefonema para um familiar, fazia de tudo. Sempre os ajudando, pois muitos
apresentavam vários tipos de dificuldades de interação e física.
Portanto, amigo leitor,
deixo aqui um pouco do pensamento e aprendizado de Reinaldo Garuffi Garbi a
respeito da convivência no Espaço Solidário: “ o Espaço Solidário é de suma
importância para a comunidade de Mãe Luiza, um bairro que tem dificuldade muito
grande , principalmente na questão do relacionamento entre pessoas. E quem
sofre com isso é o idoso também". Sabemos, né isso, leitor? Que chega uma
hora que ninguém quer interagir mais com eles, ter trabalho. Não quer cuidar da
pessoa que cuidou de você a vida toda. Por isso, vejo o Espaço Solidário como
uma luzinha pequena no bairro. Mas sempre cheia de experiência, amor e
oportunidades.
Outro exemplo de aprendizado
com os idosos foi o trabalho realizado por Josivaldo, professor de capoeira
também da Casa Crescer. O mesmo contou em sua entrevista, realizada no dia 03
de setembro deste mesmo ano, que conviver com os moradores do Espaço ajudando
no trabalho de hidroginástica, também foi uma experiência muito enriquecedora.
Pois recorda de um dos ensinamentos que ficou em mente “aproveite a vida na vivência da vida e tudo que ela tem pra lhe dar,
pois ela parece longa, mas na verdade, ela é curta”.
O trabalho coletivo
realizado na casa, onde cada uma faz um pouco do que sabe e do que pode fazer,
trouxe uma impressão muito bonita do trabalho para Josivaldo. Segundo ele, a
oportunidade de conviver com os idosos que moram, os que passam o dia e com os
funcionários foi muito gratificante porque leva de lição de vida o “Viver a vida não só por viver, mas pela
vivência dos momentos”.
A convivência no Espaço não
foi de dificuldade para o professor de capoeira, já que ele falou em entrevista
que é acostumado a lidar com jovens, adultos e idosos também em suas aulas de
capoeira. No entanto, sente que as maiores dificuldades que os moradores do Espaço tem é com a família, o sentimento que eles guardam de amor com os
familiares; como também relatou Reinaldo Garuffi em sua entrevista.
Para Josivaldo, o Espaço é
uma entidade de fundamental importância para a comunidade. E que ser idoso é
ter a graça de ter vivido toda essa passagem e está usufruindo da parte que
acredita ele, ser a que vale mais ser vivida nos dias de hoje, que é a velhice.
E que, para o Espaço Solidário só existe uma definição: “Viver a de acordo com
os meus princípios no universo centro da vida”.
Espero que com essa
variedade de exemplos de vida possam refletir junto comigo a respeito do amor e
respeito ao próximo, principalmente, aos idosos. E que possamos vê-los com
outros olhos. Pois o jovem de hoje é o idoso de amanhã. E, em breve, teremos mais uma carta relatando
a vida dos moradores, beneficiados e do motorista do Espaço solidário.
Wdérica Lima
Professora
Natal/RN